terça-feira, 16 de abril de 2024

Leia SP - Diário de Um Banana

 Leia SP - Diário de Um Banana

Em 2024 a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo disponibilizou aos estudantes uma plataforma para leitura de livros de literatura, Leia SP. No primeiro bimestre os estudantes dos 8º anos estão lendo "Diário de Um Banana". Com o objetivo de incentivar os estudantes a lerem o livro a Sala de Leitura da PEI Pedro Viriato Parigot de Souza fez uma pesquisa para trazer mais informações sobre a obra, além de ter acontecido um bate papo com as turmas.

O autor do livro é Jeff Kinney, natural de Maryland nos Estados Unidos. Jeff estudou ciência da computação na universidade do Estado em que nasceu, foi designer de jogos online e desenvolvedor de websites, atualmente, além de escritor ele também é dono de uma livraria, a An Unlikely Story. Ele começou a desenvolver a ideia de "Diário de Um Banana" em 1998, em 2004 lançou suas histórias em formato de webcomic no site Funbrain.com, elas fizeram tanto sucesso que em 2007 foram publicadas em livro. Rapidamente o livro se transformou em um fenômeno, se tornou um best-seller vendendo milhões de cópias e já foi traduzido para mais de 28 idiomas. O sucesso é sem dúvida imenso, hoje já são 18 livros na série, mais alguns títulos complementares, 4 filmes live action e duas animações.

O "Diário de um Banana" conta as aventuras de Greg Heffley, um adolescente que sonha em ser popular na escola e não mede esforços para alcançar seu objetivo. Além de conhecer o Greg, conhecemos também sua família, colegas de escola e o melhor amigo Rowley. 

Temas como amizade, família, bullying, aceitação e autoestima estão presentes na história, eles são abordados de maneira leve e descontraída e a apresentação do texto colabora bastante para isso, pois estamos lendo o diário do Greg, "escrito a mão" e cheio de desenhos bem legais que nos ajudam a compreender exatamente as situações encaradas por ele. Bom, dizer que estamos lendo o diário do Greg contraria o que ele mesmo pensa sobre isso "Em primeiro lugar, quero esclarecer uma coisa: isto é um LIVRO DE MEMÓRIAS, não um diário. Eu sei o que diz na capa, mas, quando a mamãe saiu para comprar essa coisa, eu disse ESPECIFICAMENTE que queria um caderno sem a palavra 'diário' escrita nele." (página 1)

Ao longo da leitura do livro encontramos alguns pontos em comum na organização da escola do Greg e da nossa, veja se você consegue localizar essas semelhanças (mapeamento, grêmio estudantil, clube juvenil), além disso a turma do Greg fez uma apresentação teatral com o livro "O Mágico de Oz", na nossa escola o 9º ano leu esse livro no 1º Bimestre! Será que existem outras semelhanças ou diferenças? Costuma ser bem legal procurar por elas em nossas leituras! Aventure-se com a gente!

Títulos e ano de publicação dos livros da coleção:

1 - Diário de Um Banana - 2007

2 - Diário de Um Banana: Rodrick é o cara - 2008

3 - Diário de Um Banana: A gota d'água - 2009

4 - Diário de Um Banana: Dias de cão - 2009

5 - Diário de Um Banana: A verdade nua e crua - 2010

6 - Diário de Um Banana: Casa dos horrores - 2011

7 - Diário de Um Banana: Segurando vela - 2012

8 - Diário de Um Banana: Maré de azar - 2013

9 - Diário de Um Banana: Caindo na estrada - 2014

10 - Diário de Um Banana: Bons tempos - 2015

11 - Diário de Um Banana: Vai ou racha - 2016

12 - Diário de Um Banana: Apertem os cintos - 2017

13 - Diário de Um Banana: Batalha neval - 2018

14 - Diário de Um Banana: Quebra tudo - 2019

15 - Diário de Um Banana: Vai fundo - 2020

16 - Diário de Um Banana: Bola fora - 2021

17 - Diário de Um Banana: Frawda megaxeia - 2022

18 - Diário de Um Banana: Cabeça oca - 2023


Ficou curioso com as adaptação cinematográficas da história do Greg? Confira os trailers que encontramos e divirta-se!

Diário de Um Banana - Trailer de 2010

Diário de Um Banana 2 Rodrick é o cara - Trailer de 2011

Diário de Um Banana 3 Dias de cão - Trailer de 2012

Diário de Um Banana 4 Caindo na Estrada - Trailer de 2017

Animações:

Diário de um Banana - Trailer 2021 

Diário de Um Banana: As regras de Rodrick - Trailer 2022 


Referências:

Diário de Um Banana. Jeff Kinney. Traduzido por Antonio de Macedo Soares. Cotia, SP. Vergara & Ribas Editoras, 2008.

Diário de um Banana definiu uma geração (2004 - 2021) - História Completa. Cérebro Espacial (YouTube)

Wikipédia. Diary of a Wimpy Kid. Acesso em 02/04/2024.

quinta-feira, 4 de abril de 2024

Leia SP - Meu Pé de Laranja Lima

 Leia SP - Meu Pé de Laranja Lima


Em 2024 a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo disponibilizou aos estudantes uma plataforma para leitura de livros de literatura. Os livros disponíveis foram selecionados pela Secretaria da Educação e estão organizados na Plataforma Leia SP por faixas etárias. Neste 1º Bimestre os estudantes dos 6º anos farão a leitura do grande e consagrado clássico da literatura brasileira "Meu pé de Laraja Lima" do autor José Mauro de Vasconcelos. Esse livro foi traduzidos para 15 idiomas, publicado em 23 países, já vendeu mais de 2 milhões de cópias e possui várias adaptações audiovisuais.

Com o objetivo de incentivar os estudantes a lerem o livro, a Sala de Leitura da E.E. Pedro Viriato Parigot de Souza fez uma pesquisa para trazer mais informações sobre a obra, além de ter acontecido um bate papo com as turmas.

"O Meu Pé de Laranja Lima" foi o livro mais conhecido de José Mauro de Vasconcelos, é a história do menino Zezé, que inclusive é o narrador do livro.

Zezé tem 5 anos, é um menino solitário, cuja família passa por sérios problemas financeiros devido ao pai ter ficado desempregado. Ele vive em uma família numerosa, são muitos irmãos e a mãe trabalha o tempo todo. Zezé encontra no Pé de Laranja Lima um amigo, um companheiro, um confidente. Além desse amigo inusitado, algumas pessoas marcam muito a vida de Zezé, ele se identifica com elas e constrói laços afetivos que o ajudam a enfrentar as dificuldades do dia a dia, essas pessoas são: o cantor Ariovaldo, a professora Cecília, seus irmãos Glória e Luís e seu amigo mais querido, o Portuga (Manuel Valadares).

Zezé é um menino peralta, muito ativo e muito afetuoso, talvez por suas traquinagens ou pela falta de paciência dos adultos ele apanha muito. Mesmo passando por situações bem violentas Zezé consegue manter a ternura infantil e compartilhar bons momentos com as pessoas com que ele mais se importa. O autor declarou que a história de Zezé tem muitos elementos de sua vida, é um livro autobiográfico.

"O Meu Pé de Laraja Lima" foi publicado pela primeira em 1968, já foi traduzido para 15 línguas e publicado em 23 países. Ele faz parte de uma espécie de trilogia sobre o personagem Zezé, em 1972 foi publicada a segunda parte da história, "Vamos Aquecer o Sol", que conta a pré adolescência de Zezé, nessa fase ele está morando no Rio Grande do Norte com outra família, numa espécie de adoção. A terceira parte da história, a juventude de Zezé, agora chamado de Zeca, é contada em "Doidão", apesar de contar a fase mais adulta do personagem foi o primeiro livro da trilogia a ser publicado, no ano de 1963. 

Essa história fez tanto sucesso com o público brasileiro que ao longo dos anos foram feitas várias adaptações audiovisuais. Em 1970 a TV Tupi produziu uma novela, ainda em 1970 foi produzido um filme com direção de Aurélio Teixeira; em 1980 mais uma novela, dessa vez produzida pela Band que em 1998 fez mais uma versão da novela. Em 2012 o diretor Marcos Bernsten fez mais uma versão em filme de "O meu Pé de Laranja Lima".

O autor José Mauro de Vasconcelos viveu por 64 anos, nasceu em 1920 em Bangú RJ e faleceu em 1984 em São Paulo. Filho de imigrantes nordestinos que vieram para o Rio de  Janeiro, o pai de origem portuguesa e a mãe de origem indígena.

José Mauro foi nadador e ganhou alguns compeonatos, era bom aluno, leitor de grandes escritores brasileiros, como, José Lins do Rego e Graciliano Ramos. Estudou medicina por 2 anos, mas não terminou, se tornou autodidata, estudando muitos assuntos de seu interesse. Teve várias profissões, garçom, professor, jornalista, radialista, pintor, modelo, ator, treinador de boxe e pescador, mas conseguiu se manter com a renda de escritor por muitos anos, feito raro para a profissão até os dias de hoje. Além disso, viajou pela região do Araguaia (que fica na Bacia Amazônica e marca a divisa dos Estados de Mato Grosso e Goiás, Mato Grosso e Tocantins e ainda Pará e Tocantins), para conhecer e lutar pelos direitos dos povos indígenas com os irmãos Villas Boas. Ele escreveu alguns livros influenciado por essas viagens: Arraia de Fogo (1955), Rosinha, Minha Canoa (1962), O Garanhão das Praias (1964), As Confissões de Frei Abóbora (1966), Kuryala: Capitão e Carajá (1979).

José Mauro dizia em entrevistas que escrevia seus livros em pouco tempo, porém elaborava as histórias, seus cenários, personagens e diálogos por um longo tempo e as guardava em sua memória. "O Meu pé de Laranja Lima", por exemplo, foi escrito em dose dias, fato que impressionou a crítica literária da época, sobre isso ele disse "Porém estava dentro de mim havia anos, havia vinte anos". 

José Mauro foi um grande contador de histórias!

Boa leitura!


Referências:

Deigo Cardoso. Resenha: O Meu Pé de Laranja Lima de José Mauto de Vasconcelos (YouTube)

José Mauro de Vasconcelos. O Meu Pé de Laranja Lima. São Paulo, Editora Melhoramentos 3ª Edição 2009, 22ª impressão 2013.

Marcos Amaro. O Meu Pé de Laranja Lima de José Mauro de Vasconcelos (resenha YouTube)

Professora Adriana Tullio. O Meu Pé de Laranja Lima - Trilogia (1968) José Mauro de Vasconcelos (YouTube)

Professora Isa. O Meu Pé de Laranja Lima / José Mauro de Vasconcelos / CLJ Clubinho do Livro Jovem (YouTube)

Sebastião Barata. José Mauro de Vasconcelos (YouTube)

sábado, 23 de março de 2024

Leia SP - O Maravilhoso Mágico de Oz

 Leia SP - O Maravilhoso Mágico de Oz


Em 2024 a Secretaria da Educação de SP disponibilizou aos estudantes uma plataforma para a leitura de livros de literatura. No primeiro bimestre os estudantes dos 9º anos estão lendo "O Mágico de Oz". Com o objetivo de incentivar os estudantes a lerem o livro a Sala de Leitura da PEI Pedro Viriato Parigot de Souza fez uma pesquisa para trazer mais informações sobre a obra, além de ter acontecido um bate papo com as turmas. 

O livro "O Maravilhoso Mágico de Oz" foi publicado pela primeira vez em 1900, sendo o primeiro de uma série de 14 livros que se passam no reino de OZ. Ele foi traduzido para mais de 50 línguas e vendeu mais de 3 milhões de cópias até entrar em domínio público em 1956.

Seu autor, Lyman Frank Baum, mais conhecido como L. Frank Baum, nasceu em 1856 e faleceu em 1919, viveu por 62 anos, foi escritor, editor, ator, roteirista e produtor de cinema. Ele escreveu mais 70 obras, entre livros, peças de teatro e contos, alguns sob pseudônimos como, Edith Van Dyne, Laura Bancroft e Floyd Akers.

"Eu aprendi a ver a fama como um fogo-fátuo (falso brilho, glória passageira) que, quando é capturado, não vale ser possuído; mas agradar uma criança é uma coisa doce e encantadora, que aquece um coração e traz sua própria recompensa." L. Frank Baum escreveu essas palavras na dedicatória de um livro feita para sua irmã.

Em o mágico de Oz conhecemos a história da menina Doroty Gale, ela é órfã, mora com seus tios, Henry e Em, numa fazenda no Kansas (EUA), além dos tios, Doroty tem a companhia de seu cachorrinho Totó.

O dia a dia na fazenda é monótono e cinza até que um ciclone leva Doroty, Totó e a casa de um único cômodo para o reino de Oz. Ao contrário do aspecto cinza da fazenda, Oz é um lugar colorido, vibrante, onde muitas coisas acontecem.

Em Oz Doroty busca um meio para voltar ao Kansas, nessa trajetória ela conhece bruxas, os Munchkins, os macacos alados, os Winkies, os Quadlings, o Espantalho, o Homem de Lata e o Leão. Com esses três últimos e Totó Doroty segue pela estrada de tijolos amarelos rumo a Cidade Esmeralda para encontrar o Mágico de Oz e fazer seu pedido. Seus recentes amigos também querem fazer pedidos, o Espantalho quer um cérebro, o Homem de Lata um coração e o Leão quer ser corajoso. As qualidades que faltam aos amigos são características de Doroty, ao longo da história vamos observando isso.

O Mágico de Oz é uma história original, é considerado o primeiro e o maior conto de fadas estadunidense.

Oz e o País das Maravilhas de Alice têm alguns pontos em comum, a jovem protagonista feminina, um mundo novo e diferente a ser explorado, porém diferente de Alice que escolheu seguir o Coelho Branco em sua toca e caiu no País das Maravilhas, Doroty não teve escolha, foi levada por um ciclone. Outra diferença bem importante é a jornada, Alice explora as possibilidades que se apresentam e interage com outras personagens de forma breve, já Doroty encontra três companheiros de viagem com objetivos em comum, que ao percorrerem o caminho vão se modificando e acabam alcançando seus objetivos.

O mundo de Oz é organizado em quadrantes, cuidados, ou explorado, por bruxas, habitados por populações diferentes em características físicas e cores de roupas, objetos e casas. Você pode saber mais sobre esses quadrantes lendo a matéria da Superinteressante.

Livros são fonte de divertimento, aprendizagens, amor e algumas vezes de polêmicas. Recentemente, alguns livros vêm sendo censurados, retirados de bibliotecas e escolas públicas, uma proibição que também aconteceu com "O Maravilhoso Mágico de Oz", na década de 1950 a obra foi considerada socialista, mal escrita e acusada de não trazer bons valores aos jovens. Ainda bem que essa situação não existe mais, pelo menos para este livro.

O livro foi adaptado para o cinema, o teatro e outras mídias ao longo dos anos, mas ainda hoje a adaptação mais famosa é o filme de 1939. Assista ao trailer do filme abaixo.

Trailer do filme O Mágico de Oz (1939)

O Mágico de Oz - Somewhere Over the Rainbow - Judy Garland

Trailer do Filme: Oz, Mágico e Poderoso (2013)

Conheça alguns filmes e peças que se basearam no livro no blog da Editora Darkside.

Aproveitem para ler "O Maravilhoso Mágico de Oz" enquanto os censores não mudam de ideia! Boa leitura!


Referências:

Bianezzi, Matheus. Como é o Mundo Mágico de Oz? Super Interessante.

Franco, Gustavo H. B. Baseado em fatos reais: O Mágico de Oz como alegoria política e monetária. Prefácio do livro O Mágico de Oz da Editora Zahar.

Instituto Mojo de Comunicação. Oz - O Mágico e a Terra de Oz.

O Mágico de Oz (e suas interpretações) - Tatiana Feltrin - Canal TLC YouTube.

O Mágico de Oz (resenha) - Mellory Ferraz - Canal Literature-se YouTube.

Sobre o livro: O Mágico de Oz - L. Frank Baum - Canal Lidos e Curtidos YouTube.


terça-feira, 19 de março de 2024

Leia SP - O Diário de Anne Frank

Leia SP - O Diário de Anne Frank



Em 2024 a Secretaria da Educação de SP disponibilizou aos estudantes uma plataforma para a leitura de livros de literatura. No primeiro bimestre os estudantes dos 9º anos estão lendo "O Diário de Anne Frank". Com o objetivo de incentivar os estudantes a lerem o livro a Sala de Leitura da escola PEI Pedro Viriato Parigot de Souza fez uma pesquisa para trazer mais informações sobre a obra, além de ter acontecido um bate papo com as turmas.

O Diário de Anne Frank foi publicado pela primeira vez em 1947 com o título "O anexo", esta foi a escolha da própria Anne para seus escritos. Anne escreveu seu diário em holandês de 12/06/1942 a 01/08/1944. Ela começou a escrever no dia em que ganhou o diário de presente de aniversário de 13 anos, em 12 de junho. Menos de um mês depois, no dia 06/07, Anne e sua família vão para o esconderijo no anexo. A família Frank teve companhia no anexo, mas eles chegaram um pouco depois, a família Van Pels em 13/07 e Fritz Pfeffer em 16/11. Os oito ocupantes do anexo foram levados para a prisão em 04/08/1944.

Anne Frank - Sua verdadeira história e o seu diário no anexo secreto. 
Canal História e Biografia do YouTube.

A príncipio Anne escrevia para si, para tentar entender e refletir sobre os acontecimentos externos, internos, sua convivência com os outros ocupantes do anexo, além de lidar com seus questionamentos íntimos, algo tão comum aos jovens. Seu primeiro registro no diário foi em 01/06/1942 "Espero poder contar tudo a você, como nunca pude contar a ninguém, e espero que você seja uma grande fonte de conforto e ajuda" (p.19). Anne escrevia sobre tudo o que vivia, sobre as pessoas com quem conviveu antes e durante o tempo do esconderijo no anexo.

Em 1944 um membro do governo Holandês falou por uma transmissão de rádio que esperava receber testemunhos, relatos, cartas e diários de holandeses contando sobre os sofrimentos pelos quais passaram durante a ocupação alemã. A partir desse momento Anne passou a rever seus escritos, acrescentando informações e reflexões que julgava pertinentes, além de suprimir passagens que não queria expor, pois a partir da notícia do rádio ela passou a ter a intenção de tornar público seus escritos, ela alterou os nomes das pessoas que estavam no anexo, das pessoas que trabalhavam no prédio e eram colaboradores, ela alterou até os nomes de seus familiares. A versão do livro que lemos atualmente traz os nomes reais da família Frank e de seus colaboradores, Johannes Kleiman, Victor Kugler, Elisabeth (Bep) Voskuijl e Miep Gies. Os nomes dos demais moradores do anexo permanecem com as alterações feitas por Anne.

Após a prisão dos moradores do anexo, duas colaboradoras, Miep Gies e Bep Voskuijl, encontraram as folhas com os escritos de Anne e as guardaram. Em 1945 Miep Gies as entregou, sem ler, ao pai de Anne, Otto Frank, o único sobrevivente do anexo.

Miep Gies (1909 - 2010) foi secretaria e contadora austríaca que ajudou a família de Anne Frank e mais quatro judeus a se esconder dos nazistas no Anexo Secreto, que ficava acima do escritório em que trabalhava em Amsterdã, durante a Segunda Guerra Mundial.
Nesse trecho do documentário "Dear Kitty: Remembering Anne Frank" (1998), Miep descreve como foi o momento em que a Gestapo invadiu o escritório e encontrou os oito judeus escondidos na manhã de 4 de agosto de 1944. Canal do YouTube Anne Frank Brasil. 

Não temos como saber exatamente como se sentiam as pessoas confinadas no anexo, mas podemos tentar, comparando com a nossa experiência recente na pandemia de Covid 19.
Leia abaixo alguns trecho das reflexões de Anne Frank:

"Nas últimas semanas, temos almoçado no sábado às onze e meia; de manhã temos de nos contentar com uma xícara de mingau quente. A partir de amanhã, será assim todo dia; isso faz com que economizemos uma refeição. Ainda é muito difícil conseguir verduras. Esta tarde tivemos alface podre cozida. Alface comum, espinafre e alface cozida, é só o que há. Acrescente a isso batatas podres e você terá uma refeição digna de um rei!" p.340

"Não consigo me imaginar vivendo como mamãe, a Sra. van Daan e todas as mulheres que fazem o seu trabalho e depois são esquecidas. Preciso ter alguma coisa além de um marido e de filhos aos quais me dedicar! Não quero que minha vida tenha passado em vão, como a da maioria das pessoas. Quero ser útil ou trazer alegria a todas as pessoas, mesmo àquelas que jamais conheci. Quero continuar vivendo depois da morte! E é por isso que agradeço tanto a Deus por ter me dado esse dom, que posso usar para me desenvolver e para 
expressar tudo o que existe dentro de mim!
Quando escrevo, consigo afastar todas as preocupações. Minha tristeza desaparece, meu ânimo renasce! Mas - e esta é uma grande questão - será que conseguirei escrever alguma coisa importante, será que me tornarei jornalista ou escritora?" p. 306

Anne Frank e os demais ocupantes do anexo se mantiveram informados por meio de um rádio. Estudavam muito, inclusive línguas estrangeiras, como o pouco material que seus amigos/colaboradores conseguiam levar até eles. No momento histórico em que vivemos, na era da pós-verdade, se faz necessário, imprescindível até, nos mantermos bem informados, estudar, refletir criticamente sobre os fatos para não nos deixarmos iludir por revisionismos históricos que tentam apagar acontecimentos da humanidade ou ressignificá-los com objetivos de manipulação da opinião pública. Otto Frank disse "Para construir um futuro, é preciso conhecer o passado." Você também pode ouvi-lo, é só assistir ao vídeo abaixo.


Otto Frank, pai de Anne Frank, fala sobre o diário de sua filha em uma entrevista para o programa "The Legacy of Anne Frank", que foi parte da série "The Eternal Light" feita pelo Jewish Theological Seminary of America (Seminário Teológico Judeu da América) e pela NBC, que foi ao ar em 24 de dezembro de 1967. Sentado em um dos cômodos do Anexo Secreto, ele fala sobre como os escritos de Anne o surpreenderam. Otto foi o único membro da família, e do Anexo Secreto, a sobreviver ao Holocausto.
O museu de Anne Frank (The Anne Frank House) possui uma cópia original desse vídeo. Canal Anne Frank Brasil.

O Diário de Anne Frank foi traduzido para mais de 70 línguas, vendeu mais de 35 milhões de cópias, sendo que mais de 400 mil dessas no Brasil.

Separamos dois trechos de filmes que se referem ao Diário de Anne Frank, confira:

Trecho do filme "A culpa é das estrelas" - Os personagens principais do filme visitam o museu Anne Frank em Amsterdã, local real do anexo no qual a família Frank e mais quatro pessoas ficaram escondidas.

Trecho do filme "Escritores da liberdade"


Em uma guerra sempre há fome, sofrimento e morte, sempre!  
Temos esperança na humanidade, somos capazes de aprender com o passado e construir um futuro bom para todas as pessoas. Sigamos tentando!

Boa leitura!!



Referências:

O Diário de Anne Frank - Edição definitiva por Otto H. Frank e Mirjam Pressler. Tradução de Alves Calado. Rio de Janeiro: Editora Record, 2021.

Isabela Lubrano, canal Ler Antes de Morrer, O Diário de Anne Frank (resenha)

Tatiana Feltrin, canal TLC, O Diário de Anne Frank (resenha)

domingo, 17 de março de 2024

Leia SP - As Aventuras de Alice no País das Maravilhas

 Leia SP - As Aventuras de Alice 

no País das Maravilhas

Ilustração original de John Tenniel

Em 2024 a Secretaria da Educação de SP disponibilizou para os estudantes uma plataforma para a leitura de livros de literatura. No primeiro bimestre os estudantes dos 7º anos estão lendo "As aventuras de Alice no país das Maravilhas" do autor Lewis Carrol. Com o objetivo de incentivar os estudantes a lerem o livro, a Sala de Leitura da escola PEI Pedro Viriato Parigot de Souza fez uma pesquisa para trazer mais informações sobre a obra, além de ter acontecido um bate papo com as turmas no mês de março.

O livro foi publicado em 1865 (completando 159 anos em 2024!), seu autor, Lewis Carrol, pseudônimo de Charles Lutwidge Dodgson (1832 - 1898 ele viveu 66 anos), foi professor de lógica e matemática de uma faculdade de Oxford, a Christ Church, foi aluno bolsista nesta faculdade e depois de formado foi convidado para ser professor, era considerado um gênio. Além disso, ele foi poeta, contista, desenhista, fotógrafo e diácono da Igreja Anglicana.

Lewis Carrol conheceu Alice Liddell (1852 - 1934, ela viveu 82 anos) após a chegada da família à Oxford. O pai dela era como se fosse o reitor da faculdade.

Em 1862 Carrol fez um passeio com as três filhas do reitor, na ocasião as meninas pediram a ele para contar histórias, essas histórias depois se transformaram no livro "As Aventuras de Alice no Subterrâneo", mas foi publicado como o título que conhecemos. A versão da Disney (1951) suprimiu as palavras "as aventuras de" do título.

Alice no País das Maravilhas - Disney 1951

A CURIOSIDADE é o que move a Alice, é o que a faz seguir em frente na história, explorando novos espaços, vivendo novas experiências, a curiosidade é o que, geralmente, move as crianças.

O tempo, o espaço e a lógica funcionam de modo diferente no mundo das Maravilhas. Aparecem contraposições importantes entre o mundo real, a Inglaterra Vitoriana habitada pelo autor e Alice e o mundo das Maravilhas. A Inglaterra Vitoriana é o mundo da lógica, da ordem, das normas, enquanto o país das Maravilhas é o mundo do caos, do nonsense (do absurdo, sem coerência, contrário ao bom senso).

Ilustração original de John Tenniel

A história apresenta processos de mudança pelas quais a personagem passa, esses são semelhantes às mudanças que acontecem nas vidas de todos os jovens, uns leitores vão se identificar mais com algumas coisas, outros com outras, como por exemplo, o desconforto com as mudanças corporais, o estranhamento com os diferentes papéis socias que todos precisam assumir ao passar da infância para a adolescência e depois para a fase adulta.

Muitas personagens e situações do livro Alice influenciaram a literatura e as artes visuais ao longo dos anos. O coelho branco e a toca aparecem no filme Matrix (1999). 

Referência ao Coelho Branco

Referência à toca do Coelho

A história real e ficcional (parte dela) se passam na Inglaterra Vitoriana, que tem esse nome devido ao reinado da Rainha Vitória que durou 63 anos, de junho de 1837 a  janeiro de 1901. Nessa época a Inglaterra era retratada como um modelo de país, era a nação mais poderosa do mundo devido à expansão das colônias do Reino Unido na África, Ásia e Oriente Médio. Nesse período houve aumento da atividade industrial e grande incentivo às artes.

Você pode conhecer um pouco da Era Vitoriana assistindo a alguns filmes, como esses: A colina escarlate (2015 - terror), Drácula de Bram Stoker (1992 - terror), A jovem Rainha Vitória (2009), Jane Eyre (2011), O jardim secreto (1993) e Enola Holmes (2020).

Você pode conhecer alguns filmes que se baseiam em As Aventuras de Alice no País das Maravilhas: Alice no País das Maravilhas (Disney 1951), Alice no País das Maravilhas (2010 - dirigido por Tim Burton), Alice Através do Espelho (2016 - produtor Tim Burton, diretor James Bodin).

Uma curiosidade a mais, bem importante na verdade! Este livro faz parte da lista de leituras obrigatórias do vestibular da Unicamp de 2024 - 2026.

Outra curiosidade, muito intrigante, principalmente para nós brasileiros que temos um litoral imenso. No capítulo 2 do livro a Alice diz "onde quer que se vá no litoral da Inglaterra, encontram-se uma porção de máquinas de banho de mar..." O que será isso? Encontramos uma imagem! Confira:

Você pode se informar mais sobre esse curioso costume no site O Verdoso.

Esperamos que essas informações e curiosidades enriqueçam a experiência de leitura de todos os estudantes.
BOA LEITURA!!


Referências:

Literatura Fundamental Univesp com a Professora Sandra Vasconcelos - USP.

TV Unicamp - Por que a Unicamp escolheu Alice no País das Maravilhas? Com a Professora Marcella Abboud.

Tatiana Feltrin, Canal TLC YouTube.

CARROL, Lewis. Alice Edição Comentada. Introdução e notas Martin Gardner. Tradução Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro, Editora Zahar, 2002.

COELHO, Nely Novaes. Literatura Infantil. São Paulo, Ed. Moderna, 2000.



quarta-feira, 7 de setembro de 2022

Slam - Minha Vivência

 Slam - Minha Vivência

(1º Slam do Parigot realizado em 23/08/2022)

Depois de quase dois anos em casa, reclusa por causa da pandemia combinada com problemas de saúde, as tão faladas comorbidades, fiquei em tele trabalho, sem o contato direto com a escola e com os estudantes. Desde o final de 2021 voltei para a escola, mas ainda cheia de receios, muita máscara e álcool gel, distanciamento e paranóia. Até que veio e quarta dose da vacina e um pouco mais de tranquilidade.
É provavel que o parágrafo anterior não explique nada para algumas pessoas, mas para mim traz o quanto foi difícil estar afastada da vida em comunidade e aumenta a alegria da retomada do contato diário com os estudantes e com os eventos escolares.
Desde 2018 tive um contato mais próximo com o Slam, no caso com uma apresentação do Slam da Guilhermina que aconteceu na escola estadual Reverendo Urbano, a atividade fazia parte do Festival do Livro de São Miguel organizado pela Fundação Tide Setubal. Foi uma experiência poderosa com a palavra, com os efeitos que os versos causaram nos jovens, com o brilho nos olhos.
Somente agora em 2022 tive a oportunidade de vivenciar novamente essa experiência. Dessa vez organizando e orientando os estudantes da escola estadual Pedro Viriato Parigot a fazer o nosso próprio Slam.
A Raquel, estudante do 9º ano, enviou uma mensagem para a vice diretora da escola pedindo para que nos inscrevessemos no Slam Interescolar. A Vice diretora perguntou se eu poderia fazer isso e eu disse que sim, era essa a minha intenção mesmo e já iria falar com ela sobre isso. Quando a ideia parte dos estudantes tudo fica mais fácil de organizar, de contar com a colaboração de todos na escola etc.
Fui lá, fiz a inscrição e em maio fui participar da oficina de formação com o Slam da Guilhermina, organizadores do Interescolar. Anos depois, reencontrando uma galera cheia de energia, que acredita no poder da cultura, da palavra, das pessoas. Foi muito bom estar ali no Instituto Singularidades ao lado da Cristina, Emersom, Chapéu, Legant e Amora.
Cara, o livro do Slam da Guilhermina, que conta a experiência com o Slam Interescolar, com o título Das Ruas Para as Escolas, das Escolas Para as Ruas, ganhou o prêmio Jabuti de fomento à leitura de 2021. Muito massa nossa cultura da periferia conquistar esse espaço, mas os perrengues e os corres pra conseguir patrocínio continuam!
A proposta do Interescolar é fazer um Slam em cada escola, com a organização dos professores, depois o campeão ou campeã da escola vai disputar com os campeões das outras escolas, esse ano foram mais de 200 escolas inscritas, e a terceira parte é a grande final, que será dia 8/11 no Teatro Sérgio Cardoso.
Oficina realizada, chegou a hora de fazer o Slam acontecer na escola. Bora colocar a mão na massa! Cheia de receios por nunca ter feito nada desse tamanho, mas segui em frente com medo mesmo. Bati uma papo com as 15 turmas da escola, uma de cada vez claro! Expliquei o que é Slam, suas regras, como funciona e o mais importante, pra mim pelo menos, deixei isso claro para eles, tinha que ser um evento divertido, cheio de energia, para celebrarmos a palavra, o direito de nos expressarmos.
Fiquei na dúvida se iriam aparecer estudantes dispostos a escrever poemas autorais e ainda declarmar na frente da escola toda. Pois me surprendi mesmo, foram quase 50 inscristos! Alguns não conseguiram, escreveram, mas não conseguiram declamar, travaram na escrita, mas muitos foram em frente e no dia do Slam 30 estudantes conseguiram declamar suas poesias. Foi lindo!
Antes do Slam acontecer os estudantes participaram de aulas de leitura em que puderam assistir performances gravadas dos competidores dos Interescolares anteriores, esse conteúdo está todo no YouTube do Slam da Guilhermina, além de participarem de várias aulas de leituras de poemas de diversos poetas, sem esquecer, é claro, da poesia periférica ou marginal, levei meus livros do Sergio Vaz, Raquel Almeida, Marcio Vidal Marinho, Jéssica Marcele, Jack Alves, Andrio Candido, Sarau dos Mesquiteiros, Slam Fluxo e do próprio Slam da Guilhermina. Infelizmente a escola ainda não tem muitos desses livros.
Na proposta do Interescolar também constava a visita de um poeta formador. Tivemos o prazer de conhecer o poeta e cantor Clamant. A oficina poética foi linda, os jovens ficaram encantados, hipnotizados com as palavras do poeta.

(Oficina poética com o poeta Clamant em 28/07)

Depois da oficina com o Clamant aconteceu uma coisa mágica, uma coisa muito especial. Tivemos a honra de receber o Slam Astro que realizou uma oficina poética em nossa escola. O poeta Julian, que foi estudante da nossa escola até 2020, era meu convidado para participar do nosso Slam e ele e a Prof. Bruna tiveram a ideia de fazer essa oficina poetica com a gente. Eu já disse que essas experiências são potentes, afetivas, mas não tinha ideia que seria tanto. Foi uma tarde maravilhosa e a Prof. Bruna fez uma demonstração de como seria no dia do Slam pra valer, nossos estudantes, que já estavam com os poemas prontos, declamaram. Como ainda não havíamos criado o nosso grito de paz usamos emprestado o grito do Slam Astro e a energia dos gritos e das palmas envolveu a escola inteira.

(Oficina poética com o Slam Astro em 12/08)

No dia 23/08 realizamos o 1º Slam do Parigot! Foram duas etapas, na primeira todos os 30 estudates/poetas declamaram seus poemas e foram avaliados por 5 jurados. Foi um evento restrito aos participantes, mas já contávamos com o nosso grito de paz: "Jovens poetas em ação - vai Parigot nos dê inspiração". Dessa primeira etapa saíram 5 poetas com maiores pontuações e partimos para a segunda etapa, essa contando com a participação da escola interira como público. Foi mágico! 
Tivemos o privilégio de ter na abertura a Prof. Arlete cantando uma canção, a Prof. Daiana declamando um cordel sobre nosso Slam, nossos ex estudantes Manuela e Juliam declamando poesias e compondo o jurí.
As três vencedoras foram: 1º lugar Raquel, 2º lugar Isabele e 3º lugar Giovana. Parabéns meninas, foi lindo demais!

Pra terminar essa conversa vou deixar registrado aqui o poema que escrevi após ser desafiada pela Prof. Aline. Aceitei o desafio né, já que eu estava incentivando a escola inteira a escrever!

Existimos, a que será que se destina? 

Nos perguntou Caetano Veloso de luto pelo amigo perdido pra tristeza.

Existimos, a que será que se destina?

Existimos mulheres, pra gerar, pra parir, pra cultivar a beleza

Existimos professoras, trabalhadoras, cidadãs, 

lutando contra as injustiças

lutando por garantia de direitos.

Empenhadas em multiplicar a gentileza.

Existimos como “Inspiração para aqueles que estão tentando subir

Dando a mão praquele que não se deixa cair”

Mas a resposta certa, única, não existe

Ela é individual, cada um vai construindo seu caminho a medida que caminha

Posso dizer de mim

A minha existência se destina a ser uma mulher, mãe, filha, professora, feminista, 

que acredita no poder da educação, da beleza das coisas simples, da poesia, 

da amizade, da gentileza, do amor empregado em cada gesto.

Vou existindo, tentando plantar flores e remover as pedras do caminho, seguindo os passos de Cora Coralina.

Tentando não ser máquina ao ouvir Alice Ruiz

Aprendendo a lição de Sergio Vaz: Educador é aquele que confecciona asas. E voa junto.

Repetindo os versos de Lourena: “Meus olhos se abriram nesse caos

E meu corpo é fechado para todo mal

Manter fé no que não se vê

Seguir a caminhada, seja o que Deus quiser”




sexta-feira, 30 de abril de 2021

Niède Guidon e o Parque Nacional Serra da Capivara

Niède Guidon e o Parque Nacional

 Serra da Capivara

Imagino que vocês já ouviram muitas histórias, contos de fadas, fábulas, contos de assustar e mais um tanto de outros gêneros literários como o cordel, a poesia, as parlendas. E mais um outro tanto de gêneros textuais que estão presentes no nosso dia a dia, como os bilhetes, as mensagens instantâneas nas redes sociais, receitas culinárias, as bulas de remédios... eita que a lista é longa!!

Mas hoje eu vim contar pra vocês um tipo de história diferente, a história de uma pessoa. O nome dela é Niède Guidon. Se ela mesma tivesse escrito um livro sobre sua própria história, o gênero literário seria autobiografia, mas para o nosso papo de hoje eu vou contar a história que as escritoras Duda Porto de Souza e Aryane Cararo escreveram sobre a Niède, sendo assim o nosso gênero literário é a biografia.

Antes ainda de entrar na história da Dra. Niède, calma não estou enrolando, eu só quero explicar porque escolhi contar pra vocês a história de uma cientista brasileira, sendo que vivemos dentro de um universo de histórias. É porque nesse momento da nossa vida a ciência está sendo fundamental, cientistas descobriram rapidinho o que era essa doença nova, esse vírus, e estão a cada dia descobrindo formas de sairmos dessa situação, com as vacinas, por exemplo. Vamos conseguir, tenho certeza. Mas o mundo sempre vai precisar de cientistas. Quem sabe alguém aqui se anima!

A Niède nasceu em 1933 na cidade de Jaú, no interior do estado de São Paulo. Menina curiosa, queria sempre saber como funcionavam as coisas, por que os olhos das bonecas abriam e fechavam? O que é que tinha dentro da barriga das bonecas? Sabe aquelas bonecas que falam? Por que elas falam? Como funciona o aparelhinho que faz sair o som? Por essas e por outras a família inteira tinha certeza de que a menina seria médica e ela gostava mesmo de saber de tudo. Mas aos finais de semana... ela ia sempre ao sítio dos avós. Lá ninguém segurava a menina, a diversão dela era correr pra todo lado e subir e descer das árvores.

A menina cresceu e foi prestar o vestibular pra medicina na USP – Universidade de São Paulo, quis o destino, que no dia de uma das provas ela tivesse uma dor de cabeça gigante que a fez perder a prova. A saída foi fazer faculdade de história natural pensando em depois trocar para medicina, porém a nossa menina, que já estava uma moçona ficou encantada com o curso de história natural, lá ela estudava sobre as plantas, os animais e sobre a terra. Não deu outra, ela se formou em história natural e foi ser professora.

Mas a nossa moça era danada de curiosa e queria saber mais sobre arqueologia, queria estudar a pré-história, os seres humanos e animais que viveram naquele tempo. Decidida como ela só, e vocês verão o quanto essa moça era decidida, ela partiu para a França e foi estudar arqueologia na Sorbonne e na Universitè de Paris, trè bien (muito bom), oui (sim).

Com a cabeça cheia de novos conhecimentos e muita vontade de estudar a pré-história brasileira, Niède voltou para São Paulo e foi trabalhar no Museu do Ipiranga, o Museu Paulista que é ligado à USP.

Preciso fazer uma observação aqui, esse Museu é lindo!! Ele está fechado para reformas faz um tempão, mas se tudo der certo, ele será reaberto ano que vem em comemoração ao bicentenário da Independência. A Independência do Brasil foi dia 7 se setembro de 1822.

Em 1963 a Dra Niède organizou uma exposição de fotos de desenhos rupestres brasileiros, lá no Museu do Ipiranga. Num certo dia, apareceu um senhor muito distinto que pediu para conversar com a responsável pela exposição. Nossa cientista recebeu aquele senhor, ela era prefeito da cidade de Petrolina, Pernambuco, ele mostrou pra Niède uma foto com desenhos rupestres e disse que lá na terra dele, perto da cidade em que ele era prefeito tinha desses “desenhos de índio”, as pessoas da região chamavam assim aquelas misteriosas imagens pintadas nas rochas. Niéde ficou interessadíssima, já contei pra vocês que ela era danada de curiosa né?. Ela pegou todas as informações de como chegar até os desenhos e já traçou um plano de ir até lá. Essa conversa aconteceu em julho e no dezembro seguinte ela estaria de férias e iria conferir de pertinho os desenhos.

Mas no meio do caminho tinham estradas péssimas, que ainda por cima foram castigadas por grandes chuvas. Nossa pesquisadora aventureira e seu carro ficaram pelo caminho. Frustrada, mas sabendo que a natureza tem uma força descomunal, ela deu meia volta.

Em 1964 as coisas ficaram estranhas no Brasil, uns chamam o que aconteceu de golpe, uns chamam de contrarrevolução, independente do nome que se use, o fato é que muitas pessoas, dentre elas inúmeros professores da USP foram denunciados e presos. A Niède foi denunciada como comunista e teve sua prisão decretada, mesmo sem nunca ter participado de nenhum partido político. A tia dela ficou sabendo disso e a colocou num avião direto para Paris. Em Paris ela teve que se virar, como já tinha estado por lá anos antes conseguiu um trabalho de assistente com uma antiga professora.

As imagens dos desenhos rupestres pintados nas rochas no interior do Piauí não saiam da cabeça dela, mas por muito tempo não teve jeito, a distância impedia uma nova tentativa de visita.

Em 1970 Niède veio ao Brasil com uma missão francesa para estudar povos indígenas de Goiás, ela se organizou para visitar os desenhos em São Raimundo Nonato no Piauí, chamou umas amigas arqueólogas que conheceu na USP e foram as três num jipe 4X4 mato a dentro. Chegando na cidade, elas conseguiram a ajuda de algumas pessoas que conheciam bem aquele lugar e foram até lá mostrar os desenhos para as pesquisadoras. Elas ficaram encantadas, eram muitos desenhos, diferentes de todos que a Dra. Niède já tinha visto em seus estudos. Ela fotografou o máximo que conseguiu e voltou para Paris.

Com as fotos que tirou a Niède conseguiu que a França criasse uma missão franco brasileira, olha, isso é um negócio complicado, porque envolve embaixadas, universidades e dinheiro, mas ela não descansou e foi conversar com muitas pessoas para conseguir realizar a pesquisa no Piauí. Assim, em 1973 aconteceu a 1ª missão franco-brasileira que a partir de 1978 passou a vir ao Brasil todos os anos trazendo professores e muitos alunos das universidades.

Foi tão grande a quantidade de pinturas e objetos pré-históricos encontrados naquela região que em 1979 a Dra Niède e a missão francesa conseguiram que o governo brasileiro criasse um parque nacional naquele lugar, o Parque Nacional Serra da Capivara.

Foram tantas e tão importantes descobertas realizadas no Parque que em 1991 a Unesco – Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura - declarou que o Parque Nacional Serra da Capivara é um Patrimônio Cultural da Humanidade.



Pra vocês terem uma ideia a Dra Niéde encontrou sinais de humanos na região datados de 50 até 102 mil anos. Isso causou um alvoroço no mundo da ciência, até então os cientistas diziam que o Homo Sapiens, essa nossa espécie sabe, chegou às Américas há 12 mil anos. Como assim que essa pesquisadora aí está dizendo que encontrou indícios de 102 mil anos??



Mas a nossa cientista curiosa e braba demais, não se deixou abater continuou suas pesquisas, porque ela sabe que em ciência é assim que as coisas acontecem, você faz uma descoberta que pode ser contestada ou confirmada por outros estudos, por novas descobertas.

Esses estudos encontraram muitas evidências da presença do homem na Serra da Capivara, ela encontrou ferramentas de pedra lascada, fogões de pedra com carvão e restos de animais, cerâmicas, além dos milhares de desenhos rupestres. Todas essas descobertas foram estudadas em laboratórios da Inglaterra e da França, com tecnologias avançadas que analisam o carbono 14 e conseguem determinar a idade desses fósseis.

Além das descobertas relacionadas a presença do homem, a Dra Niède e muitos outros pesquisadores que passaram pelo Parque nesses 50 anos encontraram fósseis de animais marinhos, é aquele lugar no meio do sertão, do semiárido, um dia já foi mar, mas isso já faz milhares de anos. Encontraram também uma megafauna com animais que podiam chegar a 3 metros de altura como a preguiça gigante e pesar toneladas como o mastodonte e o tatu gigante, não menos importante, e legal demais, é saber que lá também já viveu o tigre dente de sabre. No tempo em que esses grandes animais viviam lá o clima era diferentes, era úmido e tropical, conforme o clima foi mudando esses animais foram sendo extintos, mas há indícios de que viveram lá ao mesmo tempo que os homens!

Atualmente o clima da região é semiárido e os animais que vivem lá são bem menores, como o tamanduá bandeira, tamanduá mirim, várias espécies de tatus, veados, macacos prego, mocó (espécie de roedor), onça pintada, onça vermelha e diversas espécies de aves, lagartos e serpentes.

Esses 50 anos de muito trabalho e estudo de muita gente, mas especialmente da Dra, Niède Guidon, incansável guerreira pela preservação do Parque e pela melhoria de vida das pessoas da região, resultaram num Parque com estrutura para receber milhares de visitantes, uma fábrica de cerâmica com artesãos que são moradores das cidades do entorno do Parque e dois museus, o Museu do Homem Americano e o novinho Museu da Natureza. Soma-se a isso diversos projetos e parcerias com escolas e universidades. Ah! E é muito importante dizer que todos os guias do parque também são moradores da região.

Uma vez um jornalista perguntou à Niède o que ela encontrou lá no Parque, além das conquistas profissionais e científicas, ela disse: “eu encontrei e uma beleza fantástica. Nos meus piores dias, quando eu estou pra estourar, vou lá pro Parque e as coisas se acalmavam, porque a beleza da natureza é uma coisa fantástica, a beleza de todas as sociedades que nos precederam e sobretudo as que viveram lá, que você encontra nas pinturas, que era uma sociedade feliz e rica. Quando eu comparo com a miséria de hoje, principalmente das crianças, nós trabalhamos com mutas crianças, eu acho que nós temos que resgatar. E é isso que me segura lá. Eu acho que o Piauí vai voltar a ser o que ele já foi, uma região de riqueza e felicidade.


(Pesquisa e texto desenvolvidos para a Semana Literária da Escola Municipal Anselmo Duarte a convite da minha querida amiga Prof. Silvana. Foi uma honra, muito obrigada!)


Referências

Amaral, Aurélio. 5 animais gigantes que habitaram o Brasil há milhares de anos. Nova Escola. 2015. Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/225/5-animais-gigantes-que-habitaram-o-brasil-ha-milhares-de-anos

Fontenelle, Astrid. Mulheres Admiráveis – Niède Guidon. 2020. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=4M5oq6jjrQk>

Souza, Duda Porto de; Cararo, Aryane. Niède Guidon. Extraordinárias: Mulheres que revolucionaram o Brasil. São Paulo: Seguinte, 2017.

TV Cultura. Niède Guidon. Roda Viva 17/11/2003. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?vR1Uu6xjN5nU&list=WL&index=45&t=1s>

TV Cultura. Niède Guidon. Roda Viva 29/09/2014. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=AXa2e5AcU0E&list=WL&index=48>

TV Gazeta. Todo Seu, Grandes Mulheres – Niède Guidon. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=a-fWRPAI9Fg&list=WL&index=52>

Univesp TV. Vida de Cientista – Niède Guidon, 10/07/2014. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=LY6kADIdIiU&list=WL&index=63>

Ver Ciência Mostra Internacional de Ciência na TV. Niéde, uma Pré-História. 2018. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=VLXlQGibMOU&list=WL&index=64>